TEATRO NA
GRÉCIA ANTIGA
Apenas
10% das peças dos gregos chegaram até os nossos dias
O teatro na Grécia Antiga surgiu a partir de
manifestações a Dioniso, deus do vinho, da vegetação, do êxtase e das
metamorfoses. Quando os rituais dionisíacos se desenvolveram e resultaram na
tragédia e na comédia, ele se tornou, também, o deus do teatro.
Atenas era considerada a terra natal do teatro antigo,
e, sendo assim, também do teatro ocidental. "Fazer teatro"
significava respeitar e seguir aspectos do culto a Dioniso.
Teatro de Dioniso, em Atenas
O período entre os séculos 6 a.C. e 5 a.C. é conhecido
como o "Século de Ouro". Foi durante esse intervalo de tempo que a
cultura grega atingiu seu auge. Atenas tornou-se o centro dessas manifestações
e reuniu autores de toda a Grécia cujos textos eram apresentados em festas de
veneração a Dioniso.
O teatro grego pode ser dividido em três partes:
tragédia, comédia antiga, e comédia nova.
A tragédia
Do grego "tragoidía" ("tragos" =
bode e "oidé" = canto). Canto ao bode é uma manifestação ao deus
Dioniso, que se metamorfoseava em bode para fugir da perseguição da deusa Hera.
Em alguns rituais se sacrificavam esses animais em homenagem ao deus.
A tragédia apresentava como principais características
o fato de despertar o terror e a piedade no público. Para os autores clássicos,
consistia no mais nobre dos gêneros literários.
Era constituída por cinco atos e, além dos atores,
intervinha o coro, que manifestava a voz do bom senso, da harmonia, da
moderação, face à exaltação dos protagonistas.
Diferentemente do drama, na tragédia o herói sofre sem ter
culpa. Ele teve o destino traçado e seu sofrimento é irrefutável. Por exemplo,
Édipo nasce com o destino de matar o pai, Laio, e se casar com a mãe.
O pai o afasta de Tebas, sua cidade natal. Édipo é
criado por outra família, mas não pode fugir ao seu destino. A profecia se
cumpre sem que ele saiba e mesmo assim vai ser punido.
Autores trágicos
Por se tratar de uma sociedade antiga, deve-se muito à
arqueologia o resgate dessa memória. A partir de alguns registros, acredita-se
que foram cerca de 150 os autores trágicos.
Os três tragediógrafos que conhecemos, Ésquilo,
Sófocles e Eurípedes escreveram cerca de 300 peças, das quais apenas 10%
chegaram até nós.
Ésquilo (cerca de 525 a.C. a 456 a.C.)
Considerado o fundador do gênero, sete peças suas
sobreviveram à destruição do tempo: "Os Persas", "Sete contra
Tebas", "As Suplicantes", "Prometeu Acorrentado",
"Agamêmnon", "Coéforas" e "Eumênides".
Sófocles (496 a.C. a 406 .a.C.)
Importante tragediógrafo, também trabalhava como ator.
Entre suas peças estão a trilogia "Édipo Rei", "Édipo em
Colona" e "Antígona".
Eurípedes (485 a.C. a 406 a.C.)
Pouco se sabe sobre sua vida. Ainda assim, é dele o
maior número de peças que chegaram até nós. São 18 no total, entre elas:
"Medéia", "As Bacantes", "Heracles", "Electra",
"Ifigênia em Áulis" e "Orestes".
A comédia antiga
A origem da comédia é a mesma da tragédia: as festas ao
deus Dioniso. A palavra comédia vem do grego "komoidía"
("komos" remete ao sentido de procissão).
Na Grécia Clássica havia dois tipos de procissão que
eram denominadas "komoi". Numa, os jovens saiam às ruas, fantasiados
de animais, batendo de porta em porta pedindo prendas, era comum zombar dos
habitantes da cidade. No segundo tipo, era celebrada a fertilidade da natureza.
Apesar de também ser representada nas festas
dionisíacas, a comédia era considerada um gênero literário menor, se comparada
à tragédia. É que o júri que apreciava a tragédia era nobre, enquanto o da
comédia era escolhido entre as pessoas da platéia.
Também a temática diferia nos dois gêneros. A tragédia
contava a história de deuses e heróis. A comédia falava de homens comuns.
Um gênero ligado à democracia
A encenação da comédia antiga era dividida em duas
partes, com um intervalo. Na primeira, chamada "agón", prevalecia um
duelo verbal entre o protagonista e o coro.
No intervalo, o coro retirava as máscaras e falava
diretamente com o público para definir uma conclusão para a primeira parte. A
seguir, vinha a segunda parte da comédia. Seu objetivo era esclarecer os
problemas que surgiram no "agón".
A comédia antiga, por fazer alusões jocosas aos mortos,
satirizar personalidades vivas e até mesmo os deuses, teve sempre a sua
existência muito ligada à democracia. A rendição de Atenas na Guerra do
Peloponeso, no ano de 404 a.C., levou consigo a democracia e, conseqüentemente,
pôs fim a comédia antiga.
Aristófanes (447 a.C. a 385 a.C.)
Considerado o maior autor da comédia antiga, escreveu
mais de 40 peças, das quais conhecemos apenas 11, entre elas:
"Lisístrata", "As Vespas", "As Nuvens" e
"Assembléia de Mulheres".
A comédia nova
Bouguereau_(1825-1905)_-_The_Youth_of_Bacchus
Após a capitulação de Atenas frente a Esparta, surgiu a
comédia nova, que se iniciou no fim do século 4 a.C. e durou até o começo do
século 3 a.C. Essa última fase da dramaturgia grega exerceu profunda influência
nos autores romanos, especialmente em Plauto e Terêncio.
A comédia nova e a comédia antiga possuem muitas
diferenças. Na primeira, o coro já não é um elemento atuante, sua participação
fica resumida à coreografia dos momentos de pausa da ação, a política quase não
é discutida. Seu tema são as relações humanas, como por exemplo, as intrigas
amorosas.
Não existem mais as sátiras violentas. A comédia nova é
mais realista e procura, utilizando uma linguagem bem comportada, estudar as
emoções do ser humano.
Menandro (343 a.C. a 291 a.C.)
Principal comediógrafo dessa fase, mais de 100 peças
suas chegaram recentemente até nós. Muitas conhecemos apenas por título ou por
fragmentos citados por outros autores antigos, com exceção de "O
Misantropo", uma de suas oito peças premiadas, cujo texto completo,
preservado num papiro egípcio, foi encontrado e publicado em 1958.
*Valéria
Peixoto de Alencar é historiadora formada pela USP e
cursa o mestrado em Artes no Instituto de Artes da Unesp.
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
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