terça-feira, 30 de abril de 2013

MONÓLOGO







(Denise Stoklos)




O monólogo é um texto para um só ator.

Simples, assim, a definição esconde algumas armadilhas para o dramaturgo. Porque muitos pensam que um monólogo é uma história contada por um só ator, no palco, com começo, meio e fim. E não é bem assim.

Se não, vejamos.

Primeiro, o monólogo pode, sim, ter mais de uma personagem. E isso pode enriquecê-lo, torná-lo mais dinâmico. Claro que todas as personagens serão interpretadas pelo mesmo ator, com recursos variáveis, desde mudança de voz até mudança de figurino e cenário, conforme for possível e for determinado pela direção.

Segundo, o monólogo deve conter os elementos básicos do drama (drama, propriamente dito, e comédia): uma ideia central, conduzida por um protagonista, através da ação central da peça; ação presente de cena, isto é, o ator vive no palco, naquele momento, as ações da peça; um obstáculo a ser transposto pelo protagonista, o que vai levá-lo a mudar de qualidade, isto é, a tornar-se aos olhos do público uma personagem cada vez mais complexa a cada cena (verticalização).

Terceiro, como dissemos, o monólogo não é um texto com exatamente uma história linear, mas um texto construído à base da reiteração. A partir de uma ideia central, que se repete e se repete, de forma cada vez mais profunda, o texto deve revelar a cada repetição uma faceta do protagonista, seus anseios, suas motivações, seus pensamentos etc. É essa reiteração (repetição circular de um tema central) que diferencia o monólogo do drama comum e que o torna realmente teatral, sem aquele discurso linear que se come pelas pontas - com um fato levando a outro, a outro, a outro - que faz com que o monólogo entre em entropia, perca energia e se torne chato, muito chato.

No caso do monólogo cômico, o autor, muitas vezes é atraído para esse tipo de discurso linear, porque, apesar de ruim dramaturgicamente, ele acaba funcionando na base do carisma do ator ou da sequência de piadas. Mas isso transforma o texto numa espécie de stand up ou de show de narrativas divertidas, que iludem o público, ao não apresentar de forma consistente a ideia central da peça e não permitir que se conheça com profundidade o protagonista.  Não é, definitivamente, bom teatro.