quinta-feira, 1 de abril de 2010

LAND LEAL ESCREVEU:



A narrativa não passa de uma recriação, em pontos menores, específicos e estratégicos de inter-relações de alguns profundos símbolos da psique:


JUSTIÇA - INJUSTIÇA // MENTIRA - VERDADE // CORAGEM - MEDO // TRAIÇÃO - FIDELIDADE //


HEROÍSMO - COVARDIA // MESQUINHEZ - ALTRUÍSMO // SAÚDE - DOENÇA //MORTE - VIDA //


CERTO - ERRADO, ETC.


Valores universais, enfim, com base em fatos ourepresentações da vida. Recriar é reproduzir de outro modo. É necessidade humana representar acondição humana e compreender fenômenos da natureza. Nesse sentido, religião, arte e ciência se encontram: a busca de revelações esclarecedoras e iluminadoras.


NB/1: Mesmo quando distorcemos a realidade ou apelamos ao sobrenatural, buscamos uma lógica, um conceito. No início parece ter sido a necessidade do rito e do ritual (da caça, da comida, da festa, da guerra, do nascimento, da morte) que comandava a vida comunitária.


Todos os conceitos partiam daí e eram, portanto, científicos, pois tinham sua lógica, ou seja, eram ligados à base material da vida e o mito era “real”. Até aí não havia as ferramentas para raciocínios mais elaborados (ou como hoje entendemos) porque não havia os termos e as palavras-conceito: “raciocínio”, “lógica”, “consequência natural”etc.


O que veio primeiro: o pensamento ou a palavra? Provavelmente foi uma interação dialética em que um impulsionava o outro um ponto adiante. Contudo, já estávamos direcionados à racionalidade científica (como hoje a entendemos) antes mesmo de sermos humanos. O primeiro primata que elaborou um raciocínio ou construiu uma ferramenta já estava se equipando para evoluir até a condição humana de “criador de mitos” e apensar de forma “não-mítica” sobre a própria origem e destino. E novamente sobre a origem do universo, em outras concepções, mas, como no início, com base na realidade circundante.


Por que sofremos ou vibramos com as personagens? Porque nos identificamos. É a nossa história e a nossa luta que está ali simbolizada. A jornada do herói é semelhante à nossa luta pela sobrevivência, pela justiça, pelo amor.


Mais que a minha e a sua verdade, é a nossa história universal em todos os quadrantes da terra. Por isso uma boa história encanta a todos. Para o contador de histórias, essa é a função básica do mito, embora os estudiosos (antropólogos, psicólogos, sociólogos) descrevam muitas outras interpretações e funções dos mitos.


“A mitologia tem sido interpretada pelo intelecto moderno como um primitivo e desastrado esforço para explicar o mundo e a natureza (Frazer); como um produto da fantasia poética das épocas pré-históricas, mal compreendido pelas sucessivas gerações (Müller); como um repositório de instruções alegóricas, destinadas a adaptar o indivíduo ao seu grupo (Durkheim); como sonho grupal, sintomático dos impulsos arquetípicos existentes no interior das camadas profundas da psique humana (Jung); como veículo tradicional das mais profundas percepções metafísicas do homem (Coomaraswamy) e como a revelação de Deus aos seus filhos (a Igreja).” Joseph Campbell.


“Dir-se-ia que os universos mitológicos são destinados a ser pulverizados mal acabam de se formar, para que novos universos nasçam de seus fragmentos.” Franz Boas.


Pensadores e pesquisadores como Claude Lévi-Strauss, Callois Roger e tantos outros estão certamente corretos, mas jamais completos. Parece que o estudo dos mitos ainda abrirá muitas portas para acompreensão do ser humano e das civilizações. A idéia dos mitos está por trás (ao menos de modo indireto) de empreendimentos humanitários e de atos heróicos, de crimes hediondos e de internações em manicômios.

ALÉM DE SERVIR DE DESCULPA E ESCUDO PARA TERROR DE ESTADO E LIMPEZA ÉTNICA.

(Ilustração: Quixote, de Canato)