quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

DO DITIRAMBO ÀS ESCOLAS DE SAMBA, O TEATRO RECRIA-SE E TRANSFORMA-SE






As festas dionisíacas, na Grécia antiga, percorriam as ruas numa espécie de procissão. Dentro dessa procissão, havia o ditirambo, um trecho que entoava um hino a Dioniso (ou Baco, entre os romanos) e sacrificava um bode (o animal sagrado do deus). Estavam aí os primitivos elementos da arte teatro: canto, dança e mímica.




O teatro subiu ao palco. Sofisticou-se. Tornou-se uma das maiores criações humanas. Manteve suas origens, no entanto, de celebração não ao deus, mas ao gênio humano.




Mais de dois mil anos depois, nossos sambistas recriam a celebração dionisíaca, o ditirambo, e inventam a “escola de samba”. Não sabiam, provavelmente, que estavam retomando as origens do teatro em dimensões e intenções inimagináveis.




Estão lá os elementos primitivos do teatro: o canto, a dança, a representação. Acrescidos de um enredo que não conta exatamente uma história, mas a interpreta através de símbolos, como as alegorias, as danças, os figurinos.




Sofisticou-se também a escola de samba: o enredo tem uma ideia central e, muitas vezes, essa ideia se expressa numa ação central representada por uma personagem central, um herói; a ação central é reiterada por várias formas, como as diversas alas e alegorias que compõem a escola; o conflito, típico do drama moderno, é substituído por uma tensão permanente entre as diversas alas, naquilo que elas representam, e o público com o qual buscam interagir, para conquistar a compreensão da mensagem e o aplauso.




Além dos elementos primitivos essenciais ao ditirambo, a escola de samba recorre à criatividade de seus organizadores, para usar e abusar de toda a tecnologia disponível de iluminação, de uso de materiais, de melhoria do som, de mecânica etc., para tornar-se um dos maiores espetáculos da Terra, uma forma teatral de grande apelo popular e de grande beleza. Uma forma de arte – e arte cênica única e de primeira grandeza, recriada e renovada – que, sem dúvida, muito deve orgulhar o povo que a criou.



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