As festas
dionisíacas, na Grécia antiga, percorriam as ruas numa espécie de procissão.
Dentro dessa procissão, havia o ditirambo, um trecho que entoava um hino a
Dioniso (ou Baco, entre os romanos) e sacrificava um bode (o animal sagrado do
deus). Estavam aí os primitivos elementos da arte teatro: canto, dança e
mímica.
O teatro subiu ao
palco. Sofisticou-se. Tornou-se uma das maiores criações humanas. Manteve suas
origens, no entanto, de celebração não ao deus, mas ao gênio humano.
Mais de dois mil anos
depois, nossos sambistas recriam a celebração dionisíaca, o ditirambo, e
inventam a “escola de samba”. Não sabiam, provavelmente, que estavam retomando
as origens do teatro em dimensões e intenções inimagináveis.
Estão lá os elementos
primitivos do teatro: o canto, a dança, a representação. Acrescidos de um
enredo que não conta exatamente uma história, mas a interpreta através de
símbolos, como as alegorias, as danças, os figurinos.
Sofisticou-se também
a escola de samba: o enredo tem uma ideia central e, muitas vezes, essa ideia se
expressa numa ação central representada por uma personagem central, um herói; a
ação central é reiterada por várias formas, como as diversas alas e alegorias
que compõem a escola; o conflito, típico do drama moderno, é substituído por
uma tensão permanente entre as diversas alas, naquilo que elas representam, e o
público com o qual buscam interagir, para conquistar a compreensão da mensagem
e o aplauso.
Além dos elementos
primitivos essenciais ao ditirambo, a escola de samba recorre à criatividade de
seus organizadores, para usar e abusar de toda a tecnologia disponível de
iluminação, de uso de materiais, de melhoria do som, de mecânica etc., para
tornar-se um dos maiores espetáculos da Terra, uma forma teatral de grande
apelo popular e de grande beleza. Uma forma de arte – e arte cênica única e de
primeira grandeza, recriada e renovada – que, sem dúvida, muito deve orgulhar o
povo que a criou.
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