quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

ÉRICA MONTENEGRO ESCREVEU: SHAKESPEARE E O GLOBO




Shakespeare e o Globo


No verão europeu de 1595, William Shakespeare escreveu sua peça mais famosa: Romeu e Julieta. Londres recuperava-se da peste, mas enfrentava revoltas populares causadas pela alta nos preços dos alimentos. Além disso, James Burbage, líder da companhia The Chamberlain’s Man, da qual Shakespeare fazia parte, estava doente, e não se sabia até quando manteria o grupo.



A tragédia de amor entre filhos de famílias rivais traz muito do clima de violência e desesperança daquele momento. Segundo o biógrafo de Shakespeare, Park Honan, Romeu e Julieta fez (e faz) sucesso justamente porque fala de amor e violência. “A graça e o mal – ou o amor e o ódio – habitam todos os seres sensíveis e, portanto, coexistem em cada coração, em cada cidade”, diz.




(Ford Maddox Brown - Romeu e Julieta)

Quatro anos depois, a The Chamberlain’s Man inauguraria o Teatro Globo em Londres e levaria a ele Romeu e Julieta, peça que já havia agradado a nobres e populares no Teatro Curtain. Com o Globo, pela primeira vez atores e autores tornaram-se proprietários de uma sala de espetáculos. "Isso deu mais liberdade a eles, em relação aos custos e ao conteúdo das peças”, diz o professor de literatura Peter Harris, da Universidade Estadual Paulista.



A primeira vez de Romeu e Julieta

A famosa peça foi encenada durante o dia.

Farta Audiência




Não se sabe ao certo a data de estréia de peça, mas provavelmente foi em 1599. E sua platéia era diversificada. Nas galerias, sob um telhado de palha, estavam nobres e intelectuais. O povão (artesãos, comerciantes, prostitutas) ocupou a arena, sem cadeiras e a céu aberto. A peça foi encenada de dia, como de hábito.



Roteiro adaptado



A trama de filhos de famílias rivais que vivem um amor proibido em Verona não era original. Em 1562, o poeta Arthur Brooke contou em 3 020 versos a mesma história. A genialidade de Shakespeare foi transformá-la em uma ode contra a violência, enquanto Brooke escreveu um texto com fundo moralista.


Atriz (?) principal






A primeira Julieta era um homem: Edward Kynaston, que encarnaria esta e outras personagens femininas de Shakespeare. Na Inglaterra daquele tempo, mulheres não podiam participar de peças. A primeira vez que uma mulher subiu num palco inglês foi em 1660, quarenta e quatro anos após a morte do dramaturgo.




Ator coadjuvante




Além de escrever, Shakespeare interpretava papéis secundários em suas peças. Em Romeu e Julieta, viveu o frei Lourenço – o atrapalhado religioso que sugere que a heroína simule suicídio para escapar do casamento arranjado pela família. Mais tarde, ele teria tomado parte do coro, grupo que apresentava os atos da peça.



Cenário improvisado



Como em outras peças do dramaturgo, praticamente não se usaram cenários. Mas isto não limitou a criatividade do gênio. Na peça, as cenas se passaram em ritmo acelerado justamente porque prescindiram de trocas de cenário e figurino. Uma mesa no centro do palco foi suficiente para indicar o túmulo de Julieta.




Peça pirata


Na Inglaterra elisabetana,o sucesso de um autor era comprovado pela produção de cópias falsas de seus textos. Atores e pessoas da platéia escreviam de cabeça os diálogos – e as versões saíam cheias de erros. O primeiro Romeu e Julieta pirata saiu antes de o Globo ser inaugurado, em 1597.


Diversão garantida



Teatro comportava 3 mil pessoas



Com 3 andares, o Globo era uma opção acessível aos ricos e pobres: a entrada custava entre 1 e 3 pennies (1 e 5 centavos do nosso Real).



http://historia.abril.com.br/cultura/shakespeare-globo-434310.shtml

sábado, 5 de fevereiro de 2011

ELIANA IGLÉSIAS ESCREVEU: COMO ESCREVER PARA TEATRO


COMO ESCREVER PARA TEATRO

(Tsar Fyodor Ivanovich, de Tolstói, por Stanislavski, 1898)


A linguagem do teatro é completamente diferente da linguagem do cinema e TV.



Cinema e TV contam com o recurso das imagens.



O teatro é vivo, acontece naquele instante, naquele palco e sua linguagem é fundamentalmente a Ação.



Você pode ser um autor teatral (aquele que tem uma idéia própria a respeito do mundo e das relações humanas) ou dramaturgo (aquele que conhece a técnica de escrever para teatro) ou ambos (que é a melhor forma).





REGRAS BÁSICAS





Idéia Central.



Você deve ter uma Idéia Central para a sua peça. Idéia Central significa: exatamente o quê você quer dizer para o seu público?



Ex: Arthur Miller quando escreveu a peça “A morte do caixeiro viajante” quis passar a idéia de que a tecnologia moderna substitui a experiência do velho trabalhador. Os homens vão sendo colocados de lado, substituídos por máquinas.



Ação Presente de Cena.



É a Ação que deve haver em cada Cena. É através da Ação dos meus personagens que consigo mostrar minha Idéia Central ao público. Ao contrário do que se pensa, no teatro, a Ação vem antes dos diálogos. É a Ação que gera o diálogo e nunca o contrário. Senão, a peça perde o interesse da platéia.



A Ação dos Personagens não pode ser uma Ação Vulgar.



Exemplo: Abrir uma garrafa de vinho e beber o vinho, simplesmente por beber.



O ato de beber o vinho deve ser ligado à Idéia Central da peça.



Se pensarmos na Idéia Central “Os homens são substituídos por máquinas”, ao abrir uma garrafa de vinho, meu personagem, por exemplo, pode referir que as uvas daquele vinho já não são amassadas por pés humanos, e sim por máquinas. E ele bebe por quê? Para brindar a vitória da tecnologia ou a derrota dos homens?



Protagonista.



É ele quem vai carregar e defender sua Idéia Central até o desfecho da peça.



Como se reconhece um protagonista? Você reconhece o protagonista porque ele é quem muda mais de qualidade durante toda a peça.



Novamente o exemplo “O homem x máquina”: O homem é demitido pelo chefe porque uma máquina fará o seu trabalho daí para frente. Numa cena você pode mostrar o seu protagonista derrotado, completamente sem esperanças, comunicando o fato à sua esposa. Noutra cena você pode colocar seu protagonista reagindo, lutando com todas as forças para conseguir seu emprego de volta. Na cena de crise, por exemplo, ele enlouquece e trava um duelo com a máquina, como D. Quixote, e acaba sendo tragado e morto pela máquina.



Antagonista.



É o personagem que se contrapõe às idéias e vontades do seu protagonista, gerando então o Conflito.



Conflito.



É essencial a toda peça e a cada cena que está sendo apresentada. É o conflito que faz a peça caminhar para frente até o seu desfecho. O conflito essencial é mostrado na Cena de Crise.



Cena de Crise.



É a principal cena da peça, porque nela os personagens se mostram por inteiro. Numa boa peça você vai conhecendo, a cada cena, novas facetas de personalidade de seus personagens. Quando chega na Cena de Crise, o público já deve conhecer o suficiente sobre cada personagem para que haja uma identificação e uma emoção específica.



Rubricas desnecessárias.



Nunca se deve pôr rubricas do tipo: John ( Muito ansioso) ou Mary (Com ar de cansaço). É tarefa do ator (e do diretor) descobrir a emoção contida em cada fala de seu personagem.



Rubricas de Direção.



Também são desnecessárias rubricas como: O ator deve andar até o proscênio, virar-se para o lado esquerdo da platéia e dizer bla bla bla. Isso é tarefa do diretor.







Questões para pensar 


(antes de começar a escrever)




1. Shakespeare colocava nos primeiros sete minutos de suas peças o conflito essencial. Ex: Em Hamlet, o fantasma de seu pai assassinado por seu tio e pela própria mãe aparece e clama por vingança. Você concorda que os 7 primeiros minutos são essenciais para provocar o interesse ou distanciamento da platéia?



2. O quê, na sua opinião, seria uma boa Idéia nos dias de hoje, para passar para uma platéia?



3. Você já se interessou por algum tipo de linguagem de comunicação, como escrever para teatro, cinema ou TV? Acha que é algo intuitivo ou necessita de técnica?