sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

AÇÃO PRESENTE DE CENA, por Isaias Edson Sidney

(Teatro del Príncipe - Espanha)

Define-se o teatro pela ação.


Sem ação, não há teatro.

Na literatura – romance, conto, poema épico etc. – a palavra carrega a ação. Conta-se. Reconta-se.

Já no teatro, a ação precede a palavra. As pesonagens agem e depois falam, ou só falam em função de alguma ação, a partir de algum acontecimento.

Esse princípio básico do teatro – a ação – é, talvez, o mais simples de ser explicado e o mais difícil de ser realizado.

Porque teatro não se constitui de pessoas falando/conversando no palco, mas de personagens agindo, no palco. Não exatamente se movimentando, porque movimento e ação são coisas totalmente diferentes.

No solilóquio famoso de Shakespeare – “ser ou não ser” – o ator não precisa mover um só músculo além dos lábios, mas há uma enorme ação (neste caso, interior) presente de cena, resultado da tensão emocional de Hamlet, de seu estado de ânimo, de suas contradições, dúvidas e reflexões acerca de tudo o que lhe aconteceu até então: a morte do pai, a busca do assassino etc.

Um ator/personagem, com uma carta na mão, andando de um lado para o outro não nos diz absolutamente nada. Não é teatro.

Um ator/personagem que nos conta haver recebido uma carta com más notícias já tem um pouco de ação. Mas ainda não é teatro, é só alguém contando o que aconteceu.

Porém, se vemos o ator/personagem receber uma carta, abri-la nervosamente, lê-la (mesmo que silenciosamente) e sua expressão se modificando até um grito de dor ou de qualquer outro sentimento, aí já temos teatro. Porque temos ação. E o que ele disser a partir disso tem uma verdade, porque consequência do fato de haver recebido uma carta com alguma notícia importante.

Hamlet não nos conta suas dúvidas, temores e apreensões: ele se apresenta diante de nós, naquele momento, com suas dúvidas, temores e apreensões. E nos toca, ao falar de sentimentos que ele está vivendo naquele instante. Um grande momento do teatro – e da grande ação teatral – sem dúvida nenhuma.

Portanto, ação presente de cena é aquilo que acontece naquele exato momento no palco, durante a representação teatral, diante de nossos olhos. E normalmente, a ação é resultado de um conflito, de forças que se entrechocam.

Mas do conflito – outro pilar do drama/teatro - falaremos em outra ocasião..

Por enquanto, é preciso ficar muito claro que, no drama, ou seja no teatro, a ação é o elemento que não deixa uma peça entrar em entropia, ficar chata, desagradável, cansativa.

Ao escrever suas peças, o dramaturgo – o bom dramaturgo – pensa primeiro nas ações e depois nas palavras. E entende-se bem esse conceito, relendo-se o texto de Aristóteles, já publicado neste blog. E lendo – lendo muito – autores como Shakespeare (claro), mas também Tennesse Williams, Harold Pinter, Strindberg, Brecht e muitos outros, além dos trágicos gregos.

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