(Jean-Auguste Dominique Ingres - Édipo e a Esfinge)
A tragédia grega Édipo Rei foi escrita por Sófocles e é dos mitos mais revisitados da Antiguidade Clássica. O intelectual Aristóteles considerava a peça Édipo Rei como a maior tragédia do teatro grego.
Resumo
O protagonista Édipo é condenado à morte quando ainda era um bebê. O seu pai, o rei Laio, havia ouvido de um oráculo de Delfos que o filho algum dia o mataria e desposaria a própria mãe, a rainha Jocasta. Perturbado com a revelação, o rei julgou que a melhor solução seria matar o menino antes que a profecia se realizasse.
Diante da decisão, um pastor é convocado pelo rei para levar Édipo, que teria os pés amarrados e seria deixado pendurado numa árvore no monte Citerão até ser atacado pelas feras. Com pena, o pastor desobedece às ordens e leva o bebê para casa. Por ser muito pobre, a família do camponês não consegue reunir condições de criar Édipo e acaba o doando.
O bebê vai finalmente parar nas mãos de Políbio, o rei de Corinto, que passa a tratá-lo como próprio filho. O rapaz cresce e recebe a revelação perturbadora de que havia sido adotado.
Transtornado com a notícia, Édipo sai desvairado. Na ocasião encontra numa encruzilhada com o pai biológico (que desconhecia) e com mais alguns acompanhantes. Furioso, tem um surto de raiva e acaba matando aquelas pessoas. É desse modo que a primeira parte da profecia se realiza: o filho mata o próprio pai.
Quando chega a Tebas, a sua cidade natal, Édipo depara-se com uma esfinge que propunha um desafio até então nunca solucionado:
Que criatura pela manhã tem quatro pés, ao meio-dia tem dois, e à tarde tem três?
Édipo é o único a desvendar o enigma. A resposta para a questão da esfinge era o ser humano, que engatinha com "quatro pés" quando é bebê, anda sobre dois quando é adulto e alcança três pernas quando envelhece (as duas que já carrega mais a bengala).
Por ter resolvido a questão colocada pela esfinge, Édipo é considerado um herói e é declarado o novo rei de Tebas, casando-se com a própria mãe e concretizando a segunda parte da profecia. Juntos, Édipo e Jocasta chegam a ter quatro filhos (duas filhas e dois filhos).
Quando consulta um oráculo, Édipo percebe que o seu destino se concretizou.
Oh! Ai de mim! Tudo está claro! Ó luz, que eu te veja pela derradeira vez! Todos sabem: tudo me era interdito: ser filho de quem sou, casar-me com quem me casei e eu matei aquele a quem eu não poderia matar!
Desesperado, arranca as órbitas dos próprios olhos e afirma que não quer ser testemunha da própria desgraça e dos próprios crimes.
A esposa/mãe, por sua vez, a rainha Jocasta, se suicida.
EMISSÁRIOUma coisa fácil de dizer, como de ouvir: Jocasta, a nossa rainha, já não vive!CORIFEUOh! Que infeliz! Qual foi a causa de sua morte?EMISSÁRIOEla resolveu matar-se...
Significado do nome Édipo
Édipo significa "o de pés inchados". O nome era compatível com a história, porque o menino havia tido os pés perfurados para ser pendurado numa árvore. A ideia original era que as feras o devorassem.
Personagens
Édipo
O protagonista da história. É condenado a morte após o pai, o rei Laio, ouvir do oráculo de Delfos que o filho mataria o pai e desposaria a mãe.
Rei Laio
Rei de Tebas, Laio é casado com Jocasta, com quem tem o filho Édipo.
Rainha Jocasta
Mãe biológica de Édipo, perde o contato com o filho (que acredita estar morto). Fica viúva de Laio, que é assassinado pelo próprio filho. Acaba se casando com Édipo e tem com ele quatro filhos.
Camponês
Recebe as ordens do rei Laio para abandonar o menino na floresta a própria sorte. Fica com pena do bebê e o leva para casa.
Políbio
Rei de Corinto, adota o bebê Édipo e o cria como se fosse seu filho.
Esfinge
Metade mulher, metade leão, a esfinge propõe um desafio que ninguém consegue desvendar. Quando Édipo acerta a equação, torna-se herói e recebe como prêmio a rainha Jocasta.
História da criação da peça
A primeira apresentação da peça Édipo Rei foi em Atenas, capital da Grécia. Sabe-se que o texto havia sido preparado para um concurso, no entanto, a obra-prima de Sófocles ficou apenas em segundo lugar, tendo sido derrotada por um drama do, hoje pouco conhecido, autor Filocles.
Sófocles
Nascido em Atenas, capital da Grécia, Sófocles (495 a.C. – 406 a.C.) foi um importante intelectual e autor de peças de teatro. O escritor também atuou como ator. Sófocles escreveu mais de 120 peças, embora se estime que apenas sete tenham sobrevivido na íntegra.
Provavelmente Édipo Rei é o seu trabalho mais conhecido, embora também seja da sua autoria peças importantes como Antígona, Ajax e Electra. Sófocles participou em vida de trinta concursos de peças de teatro, dos quais venceu vinte e quatro. O autor teve, portanto, uma carreira como dramaturgo muito celebrada.
Complexo de Édipo, Freud
Freud se apropriou da tragédia grega para ilustrar a sua recém-criada teoria psicanalítica.
Em 1897, numa carta que escreveu para Fliess, Freud já deixava clara a sua intenção de utilizar a peça grega nos seus estudos médicos. No entanto, como estudo mais encorpado, o psicanalista só escreveu um único trabalho, mais de vinte anos depois. Trata-se de A Dissolução do Complexo de Édipo, publicada em 1924.
O trabalho encontra-se reunido na coletânea O ego e o ID e outros trabalhos (1923-1925). De forma muito sintética, de acordo com o pai da psicanálise, Complexo de Édipo é a nomenclatura que
Designa o fenômeno psicológico resultante do comportamento emocional do triângulo filho-mãe-pai. A inter-relação desses três constantes deu origem a uma série de fenômenos variáveis que foram agrupados sob o nome genérico “complexo de édipo.
O avesso (a relação entre mães e filhos) é denominado Complexo de Electra.
Edipo Re, o filme de Pasolini
O filme escrito e dirigido por Pier Paolo Pasolini foi lançado na Itália no dia 7 de setembro de 1967. O elenco conta com Silvana Mangano no papel de Jocasta, Franco Citti no papel de Édipo, Luciano Bartoli no papel de Laio e Ahmed Belhachmi no papel de Pólibo.
O longa-metragem Edipo Re pertence ao conhecido Ciclo Mítico do diretor Pasolini, que inclui também os filmes Teorema, Porcile e Medéia e a Feiticeira do Amor.
Fonte:
Rebeca Fuks
Doutora em Estudos da Cultura
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