(Denise Stoklos)
O monólogo é um texto para um só
ator.
Simples, assim, a definição esconde
algumas armadilhas para o dramaturgo. Porque muitos pensam que um monólogo é
uma história contada por um só ator, no palco, com começo, meio e fim. E não é
bem assim.
Se não, vejamos.
Primeiro, o monólogo pode, sim, ter
mais de uma personagem. E isso pode enriquecê-lo, torná-lo mais dinâmico. Claro
que todas as personagens serão interpretadas pelo mesmo ator, com recursos
variáveis, desde mudança de voz até mudança de figurino e cenário, conforme for
possível e for determinado pela direção.
Segundo, o monólogo deve conter os
elementos básicos do drama (drama, propriamente dito, e comédia): uma ideia
central, conduzida por um protagonista, através da ação central da peça; ação
presente de cena, isto é, o ator vive no palco, naquele momento, as ações da
peça; um obstáculo a ser transposto pelo protagonista, o que vai levá-lo a
mudar de qualidade, isto é, a tornar-se aos olhos do público uma personagem cada
vez mais complexa a cada cena (verticalização).
Terceiro, como dissemos, o monólogo
não é um texto com exatamente uma história linear, mas um texto construído à
base da reiteração. A partir de uma ideia central, que se repete e se repete,
de forma cada vez mais profunda, o texto deve revelar a cada repetição uma
faceta do protagonista, seus anseios, suas motivações, seus pensamentos etc. É
essa reiteração (repetição circular de um tema central) que diferencia o
monólogo do drama comum e que o torna realmente teatral, sem aquele discurso
linear que se come pelas pontas - com um fato levando a outro, a outro, a outro
- que faz com que o monólogo entre em entropia, perca energia e se torne chato,
muito chato.
No caso do monólogo cômico, o autor,
muitas vezes é atraído para esse tipo de discurso linear, porque, apesar de
ruim dramaturgicamente, ele acaba funcionando na base do carisma do ator ou da
sequência de piadas. Mas isso transforma o texto numa espécie de stand up ou de show de narrativas
divertidas, que iludem o público, ao não apresentar de forma consistente a
ideia central da peça e não permitir que se conheça com profundidade o
protagonista. Não é, definitivamente,
bom teatro.