segunda-feira, 21 de setembro de 2009

AÇÃO PRESENTE DE CENA, por Isaias Edson Sidney


(Godot - johnny murphy, stephen brennan, barry mc govern)


A essência do teatro é a ação. Ação que acontece naquele momento, na frente do espectador. E é a grande arma do dramaturgo. E também sua armadilha.

Sem ação presente, o teatro, pelo menos o bom teatro, desaparece e a peça entra em entropia. Ou seja, perde energia. Torna-se aborrecida. Chata.

Como “escrever” ou “construir” ações presentes de cena?

Já dizia Nietzsche:

“PRECEDE A AÇÃO ÀS PALAVRAS”.

Ou seja, deve-se pensar, primeiro, O QUE a personagem está fazendo? O QUE ESTÁ ACONTECENDO? E só depois colocar em sua boca a palavra.

Observe esta fala de Hamlet:




Hamlet – Anjos e ministros da graça, protegei-nos! Sejas tu um espírito benéfico ou um gênio maldito; sejas tu circundado por auras celestes ou labaredas infernais; seja tua intenção má ou benéfica, tu te apresentas em forma tão sugestiva que hei de falar contigo!... Dou-te o nome de Hamlet, real dinamarquês, rei e pai!... Oh!... Responde-me! Não me atormentes com a ignorância! Deixa-me saber por que teus ossos abençoados, sepultos na morte, rasgaram assim a mortalha em que estavam? Por que teu sepulcro, no qual te vimos quietamente depositado, abriu suas pesadas mandíbulas marmóreas para jogar-te novamente para fora? Que significa, corpo defunto, novamente revestido de aço, tua nova visita aos pálidos fulgores da lua, enchendo a noite de pavor? E nós, pobres joguetes da natureza, precisamos contemplar nosso ser tão horrivelmente agitado com pensamentos além do alcance de nossas almas? Dize-me: para que tudo isto? A que fim obedece? Que deveríamos fazer?

Nesta cena, há duas ações presentes:

1. A aparição do fantasma, pai de Hamlet, o rei assassinado.

2. A angústia interna de Hamlet, relacionada às suas dúvidas quanto à morte do pai e ao seu assassínio.

Portanto, Shakespeare pode colocar todas essas palavras na boca de Hamlet, porque ele as escreve A PARTIR da aparição do fantasma e das dúvidas que atormentam a personagem. Elas só ganham sentido nesse contexto da peça.

Portanto, pense sempre antes de escrever um diálogo ou um solilóquio: O QUE ESTÁ ACONTECENDO NESTE MOMENTO? QUAL A MOTIVAÇÃO DA MINHA PERSONAGEM?

Se o autor já conhece a sua personagem, ela lhe dirá o que escrever. E o teatro brotará cristalino, como deve ser, com a ação presente de cena. Ação que leva ao conflito. Ao drama.


Nenhum comentário:

Postar um comentário