segunda-feira, 28 de setembro de 2009

GENTE DE TEATRO


(Alzira Andrade e Mauro Henrique Toledo)


A Teatrês Oficina Teatral foi fundada em 2001 por Alzira Andrade, Denise Del Vecchio e Mauro Henrique Toledo.

A empresa oferece assessoria e consultoria em arte teatral, técnicas teatrais para entretenimento artístico, capacitação e educação corporativa.


(Denise Del Vecchio)

Na área artística, atua na formação de atores com cursos livres semestrais de teatro, na criação e na produção de espetáculos.

Na área corporativa, a atuação é voltada para a criação e a produção de eventos personalizados, com intervenções, dinâmicas e esquetes, além da apresentação de espetáculos temáticos, com humor e conteúdo focados em áreas de treinamento.

OFICINA LIVRE DE TEATRO PARA INICIANTES

Metodologia:

A Oficina de Teatro Teatrês conduzida pelos professores e consultores de comunicação Alzira Andrade e Mauro Henrique Toledo, visa aprimorar nos participantes as técnicas necessárias para a qualidade de interpretação artística de personagens de ficção.

O participante vai aprender também a reconhecer suas qualidades e habilidades, desenvolvendo capacidades para um contato criativo com sua individualidade, projetando-se para relacionamentos sadios e inteligentes com seu grupo e criando um ambiente colaborativo.

Incentivamos a reflexão pessoal (auto-estima), a reflexão social (qualidade de relacionamentos) e a reflexão universal (fator sociedade), fazendo com que o indivíduo recupere e valorize sua sensibilidade; que entenda a criatividade como uma busca possível em si mesmo; e que através dos exercícios propostos encontre entendimento e qualidade de vida, buscando soluções inteligentes e criativas para a resolução dos seus desafios cotidianos.

O teatro com suas variadas situações dramáticas e sua ação presente de cena, nos ensina a ter distanciamento emocional, ajudando-nos a refletir melhor sobre as decisões que devemos tomar na vida.

Máximo de 12 alunos por turma.

Ao término do curso, apresentação de montagem de espetáculo.

Uma aula por semana com 3 horas de duração.

Horários das turmas:


3ª feira, das 19 às 22h00
4ª feira, das 19 às 22h00
Sábado, das 9 às 12h30


SERVIÇO

- Teatrês Oficina Teatral


- Localização: Rua Madre Emille de Villeneuve, 292 – Vila Mascote – São Paulo/SP
- Telefone 5562 5182 / 5216




Responsáveis:

- Alzira Andrade: empresária, atriz, dramaturga, professora de teatro, diretora e consultora de comunicação.

- Denise Del Vecchio: atriz e diretora de teatro e televisão.

- Mauro Henrique Toledo: empresário, ator, dramaturgo, cantor, compositor, educador vocal-corporal e consultor de comunicação.



segunda-feira, 21 de setembro de 2009

AÇÃO PRESENTE DE CENA


(Godot - johnny murphy, stephen brennan, barry mc govern)


A essência do teatro é a ação. Ação que acontece naquele momento, na frente do espectador. E é a grande arma do dramaturgo. E também sua armadilha.

Sem ação presente, o teatro, pelo menos o bom teatro, desaparece e a peça entra em entropia. Ou seja, perde energia. Torna-se aborrecida. Chata.

Como “escrever” ou “construir” ações presentes de cena?

Já dizia Nietzsche:

“PRECEDE A AÇÃO ÀS PALAVRAS”.

Ou seja, deve-se pensar, primeiro, O QUE a personagem está fazendo? O QUE ESTÁ ACONTECENDO? E só depois colocar em sua boca a palavra.

Observe esta fala de Hamlet:




Hamlet – Anjos e ministros da graça, protegei-nos! Sejas tu um espírito benéfico ou um gênio maldito; sejas tu circundado por auras celestes ou labaredas infernais; seja tua intenção má ou benéfica, tu te apresentas em forma tão sugestiva que hei de falar contigo!... Dou-te o nome de Hamlet, real dinamarquês, rei e pai!... Oh!... Responde-me! Não me atormentes com a ignorância! Deixa-me saber por que teus ossos abençoados, sepultos na morte, rasgaram assim a mortalha em que estavam? Por que teu sepulcro, no qual te vimos quietamente depositado, abriu suas pesadas mandíbulas marmóreas para jogar-te novamente para fora? Que significa, corpo defunto, novamente revestido de aço, tua nova visita aos pálidos fulgores da lua, enchendo a noite de pavor? E nós, pobres joguetes da natureza, precisamos contemplar nosso ser tão horrivelmente agitado com pensamentos além do alcance de nossas almas? Dize-me: para que tudo isto? A que fim obedece? Que deveríamos fazer?

Nesta cena, há duas ações presentes:

1. A aparição do fantasma, pai de Hamlet, o rei assassinado.

2. A angústia interna de Hamlet, relacionada às suas dúvidas quanto à morte do pai e ao seu assassínio.

Portanto, Shakespeare pode colocar todas essas palavras na boca de Hamlet, porque ele as escreve A PARTIR da aparição do fantasma e das dúvidas que atormentam a personagem. Elas só ganham sentido nesse contexto da peça.

Portanto, pense sempre antes de escrever um diálogo ou um solilóquio: O QUE ESTÁ ACONTECENDO NESTE MOMENTO? QUAL A MOTIVAÇÃO DA MINHA PERSONAGEM?

Se o autor já conhece a sua personagem, ela lhe dirá o que escrever. E o teatro brotará cristalino, como deve ser, com a ação presente de cena. Ação que leva ao conflito. Ao drama.


sábado, 19 de setembro de 2009

ELIANA IGLÉSIAS ESCREVEU:






"NOS CAMPOS DE PIRATININGA" 

DE RENATA PALLOTTINI E GRAÇA BERMAN






Trata-se de um espetáculo musical, bem humorado, que conta a história do futebol em São Paulo desde o início do século passado até o presente.


Eu havia assistido à montagem anterior no Maria Dela Costa. As autoras conseguem com o texto interessar uma platéia de aficcionados ou não, ao futebol. Contam como surgiram os primeiros times de futebol na nossa São Paulo.


Um grupo de 11 atores dá conta de uma missão nada fácil, sendo que todos eles cantam, dançam e interpretam, como tem que ser um musical. Como no Brasil não temos escola para isso, ficam aqui meus cumprimentos e respeito, para quem consiga montar um musical, nos dias de hoje, no Brasil. Destaque para Eduardo Silva, grande comediante, que é o fio condutor de todo o espetáculo e que é a graça da peça.


Todas as quintas-feiras, o grupo leva a debate, o tema futebol, com depoimento ao vivo de futebolistas convidados, o que é muito interessante, mesmo para quem não conheça futebol. Essa é a terceira vez que assisto ao espetáculo. Achei mais ágil, dinâmico, a única ressalva é que poderia ser um pouco mais breve. Existem nomes na história do futebol, creio eu, desnecessários serem citados, porque isso só alonga o espetáculo, ficando por vezes no narrado de datas e acontecimentos e isso logo é esquecido pela platéia, e em nada contribui para o bom entendimento da peça. Porque, o que aprendemos durante todos esses anos, é que teatro tem que ser encenado naquele momento, naquele lugar, sem contar uma historinha. Teatro é Ação presente de Cena. Não pode se amarrar no narrado, que assim você estará afastando a atenção da platéia. Se você quer alinhavar fatos passados no decorrer de quase um século, trazê-los para o presente, você tem que amarrá-los bem em ações presentes, que estejam acontecendo ali, naquele instante, para que o público sinta-se próximo ao tema em questão do espetáculo. Principalmente, futebol como é o caso dessa peça, cuja história e nomes são desconhecidos por muitos, meu caso por exemplo.


Mas, por outro lado, devemos nos concentrar no esforço dos atores, autores, direção, para brindar a platéia com o melhor deles próprios. Nesse sentido toda a equipe atingiu sua meta. Revelaram uma meticulosa pesquisa do tema. O público se divertiu, participou, e em muitos momentos aplaudiu em cena aberta. Valeu o esforço!


Parabéns a todos!




(Eliana Iglésias é escritora, dramaturga e atriz).




SERVIÇO:


· NOS CAMPOS DE PIRATININGA
· Texto - Renata Pallottini e Graça Berman

· Direção Geral – Imara Reis

· Diretor Assistente – Augusto Marin

· Produção – Graça Berman ,Wilma de Souza , Décio Pinto e Paulo Del Castro .

· Elenco: Eduardo Silva, Graça Berman, Wilma de Souza, Décio Pinto, André Persant, Gira de Oliveira, Murilo Inforsato, Nívio Diegues, Rodrigo Dorado, Sônia Andrade e Valéria Simeão

· Administração – Fátima Collétti

· Criação e Direção Musical – Paulo Herculano

· Criação Musical – Matias Capovilla

· Preparação e Arranjos Vocais – Tato Fischer

· Iluminação – Kiko Jaess

· Preparação Corporal e Coreografias – Augusto Pompeo

· Criação de cenário, figurinos e adereços – Luis Carlos Rossi

· Assistente de Figurinos - Natália Volpe

· Criação e edição de imagens - Zeca Rodrigues e Renata Borges

· Pesquisa de imagens – Décio Pinto, Zeca Rodrigues e Renata Borges

· Criação Gráfica – Edu Reyes

· Assessoria de Imprensa – Sonia Kessar

· Coordenação de Produção – Paulo Del Castro

· Gênero – Comédia musical

· Teatro João Caetano - Rua Borges Lagoa, 650, Vila Clementino – SP – Fone (11) 5549-1744

· Estreia: 17 de setembro

· Temporada: até 1 de novembro de 2009

· Horários: quintas, 20h30; sextas e sábados, 21h; domingos, 20h

· Ingressos: 20,00 (inteira); 10,00 (meia-entrada);8,00, para quem estiver vestindo camiseta de qualquer time (a bilheteria abre duas horas antes de cada sessão e aceita só dinheiro).

· Duração: 120 minutos (dividida em dois atos)

· Classificação indicativa: livre

· Acesso e banheiro adaptado para pessoas com necessidades especiais.

· Estacionamento conveniado – 5,00 (Allpark - Hospital São Paulo - Rua Napoleão de Barros, 715)

· Toda quinta-feira, após a sessão, bate-papo com jornalistas, técnicos e jogadores convidados.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

LAND LEAL ESCREVEU:

O QUE É DRAMATURGIA?


(Caminho de Damasco, de Strindberg - cena realista)

Há muitos princípios, mas talvez o mais básico e fundamental para o encantamento seja a definição que sintetiza os ensinamentos de Aristóteles:

DRAMA É AÇÃO E CONFLITO EM SEQUÊNCIA ASCENDENTE DE CAUSA E EFEITO, COM COMEÇO, MEIO E FIM, MAS NÃO NECESSARIAMENTE NESSA ORDEM.

1 – Em algumas línguas a palavra “drama” já significa dramaturgia, ou seja: o gênero de ficção para as artes cênicas, o rádio e a história em quadrinhos. Em português usamos o termo para designar também um dos cinco gêneros básicos da dramaturgia: drama, comédia, tragédia, melodrama e farsa. Em alguns países já se chamou o drama de “tragicomédia” ou de “tragédia burguesa”. Aqui usaremos o termo "drama" como sinônimo de dramaturgia e de teatro.

2 – O teatro (ou drama), como qualquer arte, não é a vida real. É uma convenção e está, portanto, sujeito a procedimentos arbitrários.

3 – O enredo é justamente isso: uma coisa engendrada, cuidadosamente planejada pelo dramaturgo, onde nada acontece por acaso (embora pareça e deva assim parecer). Tudo é resultado da escolha deliberada do autor, mas:

a) nada deve ser apresentado de forma que a platéia não possa absorver imediatamente;
b) nada que seja importante deve ser apresentado rápido demais e nada que não seja importante deve ser alongado;
c) tudo o que é dito no palco passa pela platéia. Por isso, o autor escreve pensando no público. Se o personagem A fala com o personagem B, a fala passa antes pela platéia e quando o personagem B responde, a fala chegará a A também através da platéia;

Resumindo: teatro = ator + espectador

d) o autor deve se identificar com todos os personagens, pois do contrário a peça ficaria capenga, isto é, ele usaria o personagem com o qual se identifica para promover suas idéias ou teses e os outros personagens seriam vazios e apenas suportes sem interesse dramático, o que tornaria o texto monótono, uma exposição de motivos em forma de diálogo mas não uma peça de teatro, onde cada personagem é humanizado e tem vida própria, exceto, é claro, os pequenos personagens funcionais que não tem espaço para maior desenvolvimento como um garçom, um carteiro, etc.

3 – Teatro (drama) é ação. A velha máxima é a mesma desde os gregos e se mantém inalterada. E se mudar, deixa de ser teatro[*]. Pelo menos como o conhecemos. Ação é a essência do personagem. É através dela que se revela o coração, a mente, a mudança e o crescimento do personagem: comprar roupa é o desejo de mudar ou melhorar a aparência; telefonar é o desejo de se comunicar; rir é expressar satisfação, surpresa, felicidade.

A ação pode ser interna, contida nos limites da fala e da pausa. O movimento físico não implica necessariamente em ação dramática e nem mesmo em caracterização. Há muita peça cheia de correria e sem ação dramática.

Ação dramática é aquela que tem relação significativa com o enredo, ou seja, que provoca uma conseqüência, seja ação física ou não, seja ela de caracterização ou não.

Exemplo: servir-se de uma bebida antes de dirigir automóvel ou ao chegar de uma reunião dos Alcoólicos Anônimos pode ter consequência dramática, mas simplesmente beber em cena seria apenas uma parte da caracterização criada pelo autor ou pelo ator que representa o papel, mas não é uma ação dramática.

Já é clássica a comparação entre o lenço de Desdêmona e um lenço qualquer. Deixar o lenço cair porque o personagem tem o hábito de esquecer coisas é uma caracterização (talvez pelo dramaturgo?); deixar cair porque o personagem gosta de flertar é caracterização (talvez pela atriz?), mas quando Desdêmona deixa o lenço cair se configura um momento crucial no enredo, devido às suas consequências.

Também o diálogo, quando leva a uma mudança de tom ou de comportamento, a uma revelação, uma complicação ou uma resolução, estará desenvolvendo o enredo, levando o movimento dramático para frente mesmo que os atores fiquem estáticos. A ação interna do diálogo é o movimento dramático.

Exemplo:

Marido – Por que você quer ir embora?
Cunhada – Você não percebe?
Marido – Não. E sua irmã também não.
Cunhada – Ainda bem.
Marido – Como assim?
Cunhada – Eu te amo!

Esse diálogo seria uma ação dramática porque provocaria outras ações, seja em comédia ou tragédia. A ação é o maior fundamento do teatro (na verdade, do drama) e sem ela não há jogo, não há espetáculo (na verdade, espetáculo que prende totalmente o espectador). Isso não quer dizer que o movimento físico não seja desejável. Ao contrário, uma vez que o teatro é um espetáculo essencialmente visual, a ação física é fundamental em muitas das grandes obras primas.

Em Hamlet (geralmente considerada uma peça introspectiva) há mais peripécia física do que na maioria das peças: fantasma, esconde-esconde, lutas, mortes (até no enterro tem briga), viagens etc., todas altamente dramáticas e essenciais ao enredo.

Em Romeu e Julieta, a luta de espadas entre Teobaldo e Mercútio acaba sendo uma ação dramática de consequências imprevisíveis na disputa entre Capuletos e Montéquios.

4 – Teatro não é "historinha". Essa é uma importante orientação dada por dramaturgos experientes. Embora uma peça tenha começo, meio e fim, essa não deve ser a preocupação do autor. Ele simplesmente desenvolve a ação dramática, que por sua vez provocará outra ação e assim por diante. A história, automaticamente, se fará de ações lógicas e consequentes.

Talvez daí venha uma outra importante dica dos dramaturgos que nos orientam a começar com uma situação que já esteja armada: comece com cena que você tem na cabeça; ou: comece pelo clímax da peça; ou: não tente fazer uma historinha desde o começo. Porque isso pode bloquear o processo criativo e porque o importante é a lógica da ação e não a da cronologia. Em volta da cena que você tem na cabeça a peça começa a se formar, seja em ações para a frente (em direção ao fim da peça) ou para trás (em direção ao começo).

São apenas sugestões. Não há nenhuma receita. Se alguém prefere escrever como um romancista que puxa uma frase atrás de outra até o final, que o faça, mas esse é o mais contraproducente. Mesmo o romancista arma antes um esquema ou argumento. É sempre melhor primeiro escrever um esboço da história e depois preencher o esqueleto. Cada um perderá menos tempo com seu próprio método. Certamente qualquer método é melhor do que tentativas de erro e acerto sem noção de como usar o material.

Arme uma situação concreta com ramificações aos diferentes personagens da cena (ação). Crie ações que signifiquem, incluam ou mostrem o conteúdo, a idéia, o tema.

Isso sem falar nas revisões porque talvez aí esteja o pulo do gato. É no processo final de revisão que o autor pode até descartar a idéia inicial da peça, inverter, cortar, mudar e afinar detalhes que darão aquele último toque “mágico” do artista.

5 – Não se pode escrever sem saber o que se quer dizer.

A dramaturgia não foge à regra. O vislumbre criativo pode vir de qualquer fonte: um sonho, uma notícia de jornal, um livro, um incidente no trabalho, em família ou na rua, a experiência pessoal, profissional, amorosa, a experiência de terceiros, uma piada, interesse pelo comportamento de uma pessoa ou grupo (futuros personagens) uma outra peça ou filme, etc. É no trabalho com essas imagens que o dramaturgo se torna um pensador e desenvolve um tema.

Contudo, antes do tema é preciso ter o assunto a tratar - por exemplo: amor, ciúme, ambição, ganância, fanatismo, terrorismo, valores ultrapassados, tradição, etc. Tudo isso são assuntos mas não ajudam muito porque lhes falta uma idéia: assunto + idéia = tema.

Eis um assunto com uma idéia, um tema: O amor pode ter consequências trágicas (Abelardo e Heloisa?)

Outros: A tradição pode ser uma prisão/libertação (Abelardo e Heloisa?); O amor pode tornar o amante completamente irresponsável sobre a conseqüência de seus atos (Romeu e Julieta?); O amor pode transformar dois adolescentes ingênuos e sonhadores em adultos firmes e decididos a enfrentar o mundo (Romeu e Julieta?); O ciúme é uma doença que pode destruir a pessoa (Otelo?); A retidão de caráter aliada a uma certa ingenuidade pode ser uma perigosa armadilha (Otelo?).

Se o assunto precisa de uma idéia, esta precisa de uma situação, um estado de coisas que somente se desenvolve através dos personagens.

Eis a equação: tema + situação + personagens = enredo.

Embora uma peça seja uma seqüência de situações (ou seja, de ações), elas nem sempre são situações dramáticas e, portanto não constituem teatro.

Exemplo: acordo cedo, tomo café, vou trabalhar, volto à noite e vou dormir.

Não há nada de dramático aí porque não há um incidente que provoque uma ação e outra e mais outra. Além disso, quem provoca o incidente é (naquele dado momento) o personagem mais importante.

Exemplo: acordo cedo, tomo café (quando meu chefe me telefona para anunciar que estou despedido).

Neste momento sou o personagem “passivo” e meu chefe é mais importante. Este incidente pode ter conseqüências de acordo com os personagens e a trama que o autor desenvolve:

assunto + idéia + personagens + situação + incidentes = enredo.

O movimento (ação dramática) em uma peça é contínuo até o final da peça – um incidente leva a outro – sempre ligado à idéia guia, ao tema central.

Uma peça pode ter ainda vários outros temas paralelos e subsidiários ao tema principal.

Finalmente, não importa se alguém começa a escrever sem saber direito ainda o que quer dizer, mas as coisas somente vão se encaixar, arredondar, quando souber exatamente o que quer dizer.


[*] Talvez pudéssemos dizer: teatro é ação. Mas teatro aceita tudo, desde esquete, happening, performance, aula-espetáculo e até "strip-tease" (que não deixa de conter telementos “dramáticos”, como instigar o interesse do público, prometendo coisas mais interessantes para logo mais). Portanto, o drama se restringe a apenas uma das categorias do teatro, embora, certamente, a mais volumosa, bem sucedida e funcional. em todas as épocas. Como tudo é dinâmico e se transforma, não podemos deixar de mencionar a importante emergência da figura do “encenador moderno” – aliás, herdeiros ou de alguma forma seguidores de Appia, Reinhart, Meyerhold ou Piscator - em contraposição ao diretor e até ao dramaturgo tradicionais. Há mesmo algumas memoráveis e já históricas criações de alguns luminares dessa corrente (independentemente de suas carreiras tradicionais) como Robert Wilson, Mnouchkine, Peter Brook e o nosso Antunes Filho, que em muitas instâncias colocam em xeque a dramaturgia tradicional. Contudo, no que tange à “ação dramática”, quanto mais eles contestam a concepção original, menos interessantes se tornam seus espetáculos. Reinventar a roda? Ora, o “truque” já funciona há pelo menos 2.500 anos. Nada contra a inovação e o progresso. É preciso correr riscos, mas se preceitos fundamentais de uma determinada técnica são rompidos, o risco não seria o risco natural da criatividade, mas o de se inventar uma terceira coisa (como aliás, o hoje chamado pós-drama) que ainda seria teatro, mas não seria dramaturgia. Isso, a nosso ver, leva à perda de força do encantamento.



(Land Leal é tradutor e homem de teatro e tem o saudoso Barale Neto como modelo de homem de teatro total. )

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

LETRAS EM CENA




Um esforço meritório desta equipe: CLÓVYS, MARINA E CAMILA.


São os responsáveis pelo LETRAS EM CENA, evento semanal de leituras dramáticas, no auditório do MASP.


Por lá já passaram mais de mil atores, centenas de peças e de autores.


Textos consagrados ou clássicos, textos modernos de autores conhecidos, textos atuais de autores pouco ou ainda desconhecidos, textos nacionais e estrangeiros: oportunidade de aprofundar um conhecimento que não pode ser relegado a segundo plano, o conhecimento de textos de dramaturgia.


Educa-se o público, no melhor sentido da palavra. Formam-se plateias. E o teatro agradece.


Parabéns a todos que participam desse evento, que merece destaque na agenda cultural de São Paulo.


SERVIÇO:


· LETRAS EM CENA

· LEITURAS DE TEXTOS DRAMÁTICOS (dramas e comédias, claro)

· AUDITÓRIO DO MASP (Museu de Arte de São Paulo)

· AVENIDA PAULISTA, 1578

· SEGUNDAS-FEIRAS

· 19h30

· ENTRADA GRATUITA


(Obs.: O "Letras em Cena" encerrou suas apresentações no MASP, a partir de 2015).

terça-feira, 15 de setembro de 2009

PRIMEIRAS PALAVRAS




(Bertold Brecht)


Nem tudo o que se passa no palco é teatro.


Porque teatro é, fundamentalmente, ação.



Às vezes, assistimos a espetáculos com atores falando, movimentando-se, gesticulando. E o texto pode até ser muito bom. Engraçado. Interessante. Poético. Filosófico.



No entanto, não é, necessariamente, teatro. Por quê?



Teatro pressupõe ação, ou seja, personagens que agem, através de atores, que lhes dão vida. E essa ação acontece naquele momento, diante de nós, no palco. Não é contada ou narrada. Acontece ali, aos nossos olhos.



E mais: há uma idéia central (aquilo que o autor quer comunicar à platéia, sua weltanshauung, sua visão de mundo) conduzida por uma ação central representada por um protagonista.



Esse protagonista tem uma vontade e essa vontade encontra um obstáculo – o que gera conflito.



Sem conflito, não há drama.



Mesmo na comédia. Porque comédia também é drama, com algumas pequenas leis próprias, mas essencialmente com a mesma estrutura.



O protagonista tem um antagonista (que pode, até, ser ele próprio,como em Édipo). E é a personagem que, na trama, entre muitos (ou não) que pode haver no enredo, aquele que mais muda de qualidade, ou seja, mais se modifica, mais se mostra.



Há muitos outros elementos no drama. E mesmo os que abordamos aqui, fizemo-lo de forma superficial. Mas vamos discuti-los todos, neste espaço. Em texto teóricos ou de crítica.



Porque, se vamos falar de teatro, vamos analisar peças que lemos ou ouvimos e espetáculos a que assistimos. E a nossa crítica, aqui, neste espaço, mesmo a de nossos colaboradores (que esperamos tê-los!) será sempre a crítica construtiva.



Porque respeitaremos o trabalho alheio, de diretores, atores, iluminadores, maquiadores, produtores etc. Sabemos quão árdua é a tarefa de levar um espetáculo ao palco ou, mesmo, de escrever um texto.



Podemos apontar equívocos, sob o nosso ponto de vista, quando necessário. Mas, se um espetáculo ou texto forem realmente lamentáveis, preferiremos o silêncio a detratá-lo.



Portanto, amigos do teatro: tenham aqui um espaço de respeito, mas também de debate de idéias e de aprofundamento de conceitos de dramaturgia.



E uma observação final: alunos que fomos de CHICO DE ASSIS, ao mestre agradecemos e dedicamos este espaço.


(Chico de Assis)